A matéria ficou grande, então dividimos em três partes, veja aqui a primeira parte.
Dois recentes estudos têm gerado controvérsia entre os produtores e consumidores do pornô bareback, principalmente depois que o estado da Califórnia, que é a capital mundial da produção audiovisual, incluindo o pornô, decidiu colocar para votação popular uma medida que obriga estúdios a utilizar “equipamentos de segurança” na produção de seus vídeos, como óculos, dental dents (que são utilizados também para proteger o sexo oral) e claro a camisinha, abrindo também a possibilidade de produtores, diretores e atores serem processados por não utilizarem tais “equipamentos”.
O primeiro realizado por Eric Schrimshaw, PhD, da Escola Mailman de Saúde Pública, e Martin J. Downing Jr., PhD, em Soluções de Saúde Pública da Universidade de Columbia mostra evidências sugerindo que a pornografia pode ter uma função protetora importante, incentivando os homens a usar preservativos.
A pesquisa está entre as primeiras a examinar a relação entre o pornô gay e a frequência dos encontros anais sem preservativo.
Na verdade um tipo de pornografia foi associada com maiores taxas de uso do preservativo -. Homens que viram mais pornografia contendo o uso do preservativo, envolveram – se em menos relações anais sem preservativo. Mesmo aqueles que tomaram parte na visualização de pornografia compulsivamente não estavam mais propensos a se envolver em sexo anal sem preservativo”, observou Schrimshaw.
Os resultados foram baseados em uma pesquisa online com 265 homens que fazem sexo com homens (*HSH) e que assistiram “mídia sexualmente explícita” (leia – se pornô) nos últimos três meses.
Quase todos (92%) dos homens que fazem sexo com homens relataram consumo de mídia sexualmente explícita que contenham sexo anal sem preservativo, 48% concordaram que o conteúdo havia contribuído para eles se envolvessem em contatos sexuais mais arriscados. Para 70% assistir ao material explícito os levou reproduzir o comportamento exibido na tela; 55% relataram que a assistir ao material sexualmente explícito levou-os a procurar sexo em seguida.
Os entrevistados foram convidados a comentar sobre como eles percebem os efeitos de visualização de “mídia sexualmente explícita”. Eles concordaram que a pornografia contendo sexo “bareback” contribuiu para a sua prática de sexo sem preservativos, dado que leva autores do estudo a concluir que a pornografia pode encorajar os homens a se envolver em comportamentos sexuais mais arriscados.
Claro, isso não nos diz que a pornografia sem preservativo leva os homens a ter relações sexuais desprotegidas. Pode muito bem ser que os homens que têm relações sexuais sem preservativo simplesmente gostam de assistir filme pornô sem preservativo. (O mesmo acontece com os estudos anteriores sobre o tema, que tiveram resultados semelhantes.)
Isso não revela se pornô contribuiu ou não para relações sexuais sem preservativo, ele simplesmente nos diz que os entrevistados acreditam nesta correlação.
É inegável dizer que o que vemos na tela de nossos computadores e celulares influencia o nosso comportamento, principalmente quando falamos de um assunto tão difícil quanto o sexo. Difícil não pelo ato em si, mas pela carga de culpa e vergonha que o mesmo carrega. A grande maioria dos homens, gays ou não, aprendem sobre o sexo com o pornô, como ele funciona, o que vai onde e qual o “roteiro” a ser seguido.
Entramos aqui em um território pantanoso, uma reflexão antiga, de “a arte imita a vida ou a vida imita a arte?” Não é uma discussão simples. Precisamos encarar com menos moralismo e “amadorismo” a questão. Qualquer pessoa que tenha feito sexo, sabe em maior ou menor grau, que o que acontece no pornô tem pouca semelhança com o sexo real. Os paus não são tão grandes, o sexo não é tão limpo e tentar constantemente reproduzir o que se apresenta como “fantasia” pode lhe dar mais dor de cabeça do que prazer.
Pornô é “business”, alimenta as nossas necessidades como a indústria de alimentos ou a de roupas, e os grandes estúdios estão verdadeiramente preocupados em ganhar dinheiro, principalmente agora onde grande parte o material produzido é distribuído de graça (pirateado) e que cada um de nós possui um estúdio com fotos e vídeos em alta resolução em nossos bolsos.
As declarações de Michael Lucas (na primeira parte desta matéria), a escolha pelo bareback, é uma escolha dos consumidores e qualquer posicionamento dos estúdios que quiserem sobreviver vai indubitavelmente seguir esta tendência.
Mas será que de fato são os consumidores (os “poucos” que ainda pagam pelo conteúdo) que exigem o conteúdo sem camisinha? Uma outra pesquisa lançada recentemente tende a confirmar as suspeitas dos produtores, mas também traz algumas surpresas nos resultados.
O estudo, publicado na revista Archives of Sexual Behavior (Arquivos do Comportameno Sexual), descobriu que a maioria dos homens prefere a pornografia sem preservativo, mas que uma porcentagem, que não é pequena prefere preservativos ou não se importa.
Pesquisadores entrevistaram 821 homens homossexuais, heterossexuais e bissexuais sobre suas experiências e preferências em torno de “mídia sexualmente explícita.” Quando se trata de homens heterossexuais assistindo sexo vaginal, 65% preferem vídeos sem preservativos, 3.3% preferem com preservativos, e 31.7%, essencialmente, são indiferentes. Para o pornô com anal, os números são semelhantes: 61.7% preferem sem preservativo, 5.3% preferem com preservativos, e 33% não têm uma preferência.
Quando se trata de homens homossexuais assistindo sexo anal: 64.4% preferem vídeos sem preservativo, 6.4% com preservativos e 29.2% não se importa. Para assistir o sexo vaginal, 50.5% dos homens homossexuais o preferem sem preservativo, 4.3% preferem os preservativos em cena e 45.1% eram indiferentes. (Você pode perguntar por que eles perguntaram homens gays sobre sexo vaginal: os pesquisadores descobriram uma quantidade do que eles chamavam de “identidade discrepante” no consumo do pornô; 21% dos homens heterossexuais relataram assistir pornô gay e 55% dos homens homossexuais relataram assistir conteúdo heterossexual.)
A pesquisa não consegue, entretanto, mostrar uma relação de causa e efeito, entre os que assistem o pornô bareback e os que o praticam em suas vidas.
Um dos argumentos contra a obrigatoriedade de preservativos na indústria adulta tem sido o de que há uma alta demanda do material sem preservativo, e que a proibição de tal conteúdo vai empurrar produções para clandestinidade, tornando o trabalho dos atores menos seguro.
Mike Stabile, porta-voz do estúdio Kink.com, diz que este estudo demonstra um mercado maior para a pornografia sem preservativo – especialmente que, quando se trata de homens heterossexuais assistindo o sexo vaginal e gays assistindo sexo anal, o interesse pelo conteúdo sem preservativo é duas vezes maior, em oposição aos indiferentes e os que preferem sexo com preservativos. Mesmo assim, ele diz que “a estimativa parece baixa” e acrescenta:
Com base no que eu sei sobre o mercado, eu diria que os que se dizem indiferentes ao uso da camisinha, quando lhes é dada a escolha entre os dois, escolhem pelo conteúdo na qual ela está ausente.”
A controvérsia vai longe, grandes empresas como a Kink, que produz conteúdo de fetiche, para todos os gostos (gay, hetero, trans e bi) estão ameaçadas de fechar as portas ou mesmo mudarem suas operações para outros estados ou países, caso a população da Califórnia decida pelo uso obrigatório de preservativos em filmagens produzidas no estado.
A matéria ficou grande, então dividimos em três partes, veja aqui a terceira e última parte!
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