Olá André, boa noite.
Vi alguns dos seus trabalhos, gosto muito, te acho maravilhoso, superatencioso, foi muito gentil e acessível ao falar comigo no direct do Insta.
Eu sou passivo e a minha vida toda fui inseguro com relação ao meu físico, eu não me solto totalmente na hora “H” por vergonha do meu corpo, inclusive por coisas que são normais, mas eu sempre acho que o ativo/parceiro vai ficar insatisfeito e me julgando internamente.
Sou branco, porém não costumo pegar sol, moro no interior e não temos praia aqui, logo, fico com marcas de camiseta quando tiro a roupa, acho constrangedor também fico inseguro com pelos no corpo, eu vivo com a ideia de que o cara que é ativo quer um passivo depiladinho e totalmente “perfeito” de certa forma, certas gordurinhas e estrias, tenho algumas no bumbum e costas também.
Eu nunca aproveitei uma transa 100% por conta dessas inseguranças com meu corpo. Gostaria que falasse como um ATIVO, que é o seu caso, enxerga essa situação, se isso tudo é paranoia da minha cabeça. Agradeço a atenção.
Olha aí, estamos na nossa segunda coluna! Queria agradecer todo mundo que chegou aqui no Blog da Prus Quinttus para ler. Muito obrigado por estarem de volta e obrigado aos que chegaram agora. Então vamos lá:
Fala comigo, passivo!
Obrigado pelos elogios. Acho super bem-vindos! 🙈
Cara, esta questão com o corpo eu já tive, quando estava passando da adolescência pra vida adulta, 17, 18 anos. E vou te falar o que eu aprendi, amigo:
Duas coisas acontecem: quando a gente observa os padrões de beleza e não se encontra neles, nos sentimos mal, que nosso corpo é menos importante, menos bonito, que somos feios, que jamais viveremos algumas situações ou ficaremos com “tais” pessoas. E ninguém quer um corpo assim!
Então a gente acaba não cuidando do nosso corpo, a gente acha que ele não merece tanto cuidado (e eu não estou dizendo que seja por falta de cuidado que teu corpo seja assim, como quem diz que ser gordo é falta de cuidado. Não! Mas de cuidar de si mesmo, de se aceitar, de se explorar).
Quando eu tinha 17 anos eu era vítima dos mesmos estereótipos: do que era um gay bonito, que todos queriam e também de quem era o gay feio. Eu não me encaixava aos 17 anos, eu era magrelo demais, eu não tinha tantos pelos e minhas cuecas ainda eram do Looney Toones.
Eu era pobre nessa época e não tinha roupas legais. Minhas roupas não faziam meu corpo parecer bonito. Obviamente eu não era o estereótipo do “bonito” e achava que nunca ia ser. Mas o estereótipo do bonito, muda. E eu me adaptei também. Todo cara quer ser desejado! Alguns não querem ser amados, mas desejados(?), TODOS querem!
E vale a pena sofrer pelo seu corpo, viver em função de ficar magro e forte, fazer dietas e aplicar substâncias, odiar tudo isso, só pra poder ser desejado como os outros?
Eu acho que nós podemos fazer mudanças saudáveis no nosso corpo, mesmo que elas sejam moda, porque a gente tá só sendo humano, um animal sociável e dependente (um pouco) dessa sociedade e também do que ela gosta.
Então em algum momento eu decidi que eu queria perder minhas marcas de camiseta. Em algum momento eu decidi que precisava trabalhar para comprar minhas cuecas de homem. Em outro momento eu decidi que gostaria de parecer menos vulnerável então eu decidi ir pra academia. E ciente, não de que eu estava cedendo em tentar buscar o padrão, mas de que eu estava disposto a explorar meu corpo, não sabia direito como, então aquele poderia ser um bom começo.
Quando a gente fala “Aceite-se” nunca estamos falando sobre aceitar que você é assim, sempre será e que amor-próprio é conformar-se, quando não é nada disso! Não é sobre não poder ou precisar se cuidar, não é sobre não poder mudar uma parte do seu corpo. Como eu disse lá em cima, quando a gente vê que nossos corpos não são o padrão de beleza, e a gente acha ele feio, a gente “meio que” nega esse corpo, se descuida.
Então quando a gente fala “Aceite-se” é tipo, aceita teu corpo de volta. Pega o que é teu. É seu corpo, aceita ele. Só para que então, você explore ele e faça dele o que quiser.
Se quiser fazer mudanças, faça. Se for o que tu acha bonito, se respeitar os limites do seu corpo!
Se for te deixar feliz e agradar um cara, ou um tipo de cara que vale a pena, muda!
Uma depilada aqui que todo mundo gosta não vai fazer mal e agredir tua essência. Um Jockstrap pra surpreender, com a bunda de fora ou fio dental.
Quer ficar mais bronzeado? É sua meta? Faz como eu fiz, faz uma lista de metas e vai cumprindo:
“1. Viajar ao litoral nas férias e me bronzear; 2. Fazer exercícios físicos”, que ajuda muito na autoestima (por questões fisiológicas e mentais e não apenas estéticas). Se as suas questões são mais simples, experimenta tentar fazer. Agradar um pouco o padrão. E depois parar, se quiser. Descobrir outra forma. Veja o que você acha que teu corpo precisa.
Imagina que algumas pessoas “trans” lidam todos os dias com o fato de terem um órgão que não sentem que pertence a elas. Pensa que barra que é!
Mudar algo que te incomoda e é simples de resolver, é melhor que ficar sofrendo com aquilo. Cada um gosta do seu corpo de um jeito… É se explorando e se experimentando que você vai descobrindo sua beleza.
Aceite-se!
Agora, sobre as cobranças do ativo, eu acho que vocês poderiam começar conversando sobre seus corpos antes de botar eles juntos. Falar o que você gosta no seu corpo, e perguntar se ele gosta de alguma coisa. Ir pra cama já sabendo que um gostou do corpo do outro.
O resto é paranoia. Não que o cara esteja amando o teu corpo. Ele pode estar vendo algum “defeito”, ou algo que você não gosta. Mas se ele tá transando, ele ta transando! Se ele escolheu, é porque ele quer e pronto.
Não fica pensando se ele tá satisfeito ou não. Faz ele satisfeito. Curte você, porque tem gente que gosta de ver o outro sentir prazer. Na hora desse prazer todo ninguém repara em detalhes como estrias. Mas os que repararem, não são pra você. Não podemos agradar a todos.
Sério, cuida de você. Usa teu corpo. Explora ele, experimenta coisas, respeitando e descobrindo a sua beleza, e o principal: foca nas pessoas que enxerguem a tua beleza.
Espero ter ajudado!
Manda mais e-mail me contando como tá sua descoberta!
Um abraço! 👼🏼
2 comments
João rosa
Muito bem escrito! Adorei fala simples e direta da visão que temos do corpo!
Marcello Felipe Cunha Vieira
Adorei a segunda coluna e esperando já pela terceira ! Sou teu fā !